A Falsa Profecia sobre a Africa do Sul e a Índia
Em 1952, William Branham afirmou publicamente que teve uma visão de Deus a respeito de uma campanha evangelística em Durban, África do Sul. Ele disse que essa visão era acompanhada por uma audiência de 300 mil pessoas. A declaração foi feita com total convicção:
"Assim diz o Senhor, anote isso em seu livro."
Essa frase carregava o peso da infalibilidade profética. A visão, segundo ele, não era uma sugestão, nem uma possibilidade condicionada — era uma promessa divina que, na mente de Branham, estava selada.
O Fracasso Inicial: Índia no Lugar da África

Dois anos depois, em 1954, Branham embarca para a Índia — não para a África, como previa a visão. Durante essa viagem, não houve nenhum sinal do impacto que ele profetizara. Nenhuma multidão gigantesca, nenhum mover espetacular como ele descrevera. Diante disso, ele reconhece um erro:
30 - E alguém estava falando esta manhã sobre a campanha africana no livro, creio que o irmão Boze e muitos outros, sobre um artigo que creio que alguém leu ou algo assim. Isso fez a roda girar ou algo assim. Bem, no entanto... pensei que talvez eu pudesse dar a vocês um pequeno testemunho de algo que aconteceu, e se vocês lerem esse artigo, e sabendo o que aconteceu, pensei em mencionar algo sobre um testemunho que aconteceu na Índia. Talvez vocês estejam interessados na obra de nosso Senhor, porque somos apenas trabalhadores aqui na colheita que está sendo feita esta manhã para debaixo da árvore, para um pequeno descanso e um tempo de comunhão juntos.
E quando... eu fui muito constrangido a ir para a Índia. E, no entanto, como muitos de vocês devem saber, a viagem à Índia não foi o sucesso que deveria ter sido, porque falhei em seguir a liderança do Espírito Santo e nunca reconheci isso depois que Ele me deu a visão de ir primeiro para a África e depois para a Índia.
57-0126B - "Relatório de Viagem à Índia"
Rev. William Marrion Branham
"Eu falhei em seguir a liderança do Espírito Santo."
Essa admissão já cria um problema: como uma visão dada por Deus, declarada com “Assim diz o Senhor”, pôde ser “desviada” por uma decisão errada do próprio profeta? Isso já aponta para um tipo de improvisação teológica para justificar o que claramente não saiu como esperado.
A Primeira Reinterpretação: A Ordem Estava Invertida?
Em 1958, ele muda o enredo. Agora, segundo ele, Deus teria dito que ele deveria ir primeiro à Índia, depois à África. Isso nunca havia sido mencionado antes, e essa nova explicação parece ter surgido apenas depois do fracasso da viagem de 1954.
Mas a visão original, registrada em sermões de 1952, era específica: a reunião seria em Durban, com multidões. Não havia qualquer indício de uma "ordem de eventos" a ser seguida, nem menção à Índia. Essa reinterpretação surge apenas depois que os fatos contradizem a narrativa inicial.
A Expectativa Prolongada: O Tempo Vai Resolver?
Mesmo nos anos seguintes, Branham ainda falava da expectativa de que a visão se realizaria. Em sermões de 1965, ele ainda dizia:
260 - E eu... eu vou para a África do Sul depois disso. Pois, ah, meu Deus, você sabe como é lá, onde você nem consegue falar com as pessoas. E haveria... Estamos esperando pelo menos trezentos mil, uma única reunião.
65-0427 - "Deus muda de ideia?"
Rev. William M. Branham
"Estamos esperando pelo menos trezentas mil pessoas em uma única reunião na África do Sul."
Mas a realidade foi outra: o visto foi negado, e nenhuma reunião sequer foi realizada. Nem 300 mil, nem 30 mil. A profecia não apenas deixou de se cumprir, mas nunca chegou sequer a acontecer parcialmente.
Não há registro bíblico de profetas verdadeiros oferecendo “desculpas” para falhas. As reinterpretações de Branham mais se assemelham a correções humanas de erro do que à condução segura do Espírito.
Tentativas de Justificação:
Diante desse evidente fracasso, alguns tentam defender Branham usando exemplos bíblicos. Vamos analisar três deles:
- Ezequiel 33 – Deus volta atrás em promessas?
Sim, quando são condicionais. No entanto: esse tipo de promessa condicional Deus deixa isso claro no texto. No caso de Branham, ele disse que a visão era certa, incondicional e infalível: "Assim diz o Senhor", e não incluiu nenhuma condição.
Portanto, não há base bíblica para Deus voltar atrás em algo que foi profetizado como absoluto e irreversível. - Jonas e Nínive – O juízo que não veio
A mensagem de Jonas era: “Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída”
Porém, todo o livro de Jonas mostra que o objetivo era provocar arrependimento, e o povo de Nínive entendeu isso. Eles disseram: “Quem sabe, se Deus não se voltará e se arrependerá...” (Jonas 3:9).
Ou seja, era uma advertência condicional, não uma profecia messiânica ou promessa gloriosa.
Anos antes de Jonas ir a Nínive, o profeta Jeremias disse que Deus reteria seu julgamento sobre uma nação que se arrependesse. (Jeremias 18:7-8)
No caso de Branham:
Ele previu algo positivo e glorioso, não uma advertência que o povo poderia evitar com arrependimento. Branham não disse: “Se eu obedecer, ou se o povo estiver pronto...”. Ele afirmou categoricamente que aconteceria. - Isaías 17 – A destruição de Damasco não aconteceu?
Alguns defensores de William Branham tentam usar Isaías 17 — que fala sobre a destruição de Damasco — como exemplo de uma profecia bíblica "não cumprida" para sugerir que profecias podem ser adiadas ou reinterpretadas.
No entanto, há problemas com esse argumento:
- Isaías 17 ainda pode se cumprir futuramente
Muitos estudiosos acreditam que Isaías 17 é uma profecia escatológica, ou seja, ainda se cumprirá no fim dos tempos. Isso é diferente de uma profecia com prazo, local e evento específico como a de Branham. - O texto de Isaías é poético e simbólico
Profecias como as de Isaías muitas vezes têm linguagem apocalíptica, não necessariamente literal ou imediata. Isso permite interpretações mais amplas, o que não é o caso da visão de Branham, que era direta e com detalhes muito específicos: lugar, público, número de pessoas e até a confirmação com “Assim diz o Senhor”. - Não há registro de erro ou correção no caso de Isaías
Isaías não voltou atrás, não reinterpretou sua profecia, nem tentou explicar sua aparente “falha”. Já Branham mudou sua explicação várias vezes, o que demonstra uma tentativa humana de ajustar o erro.
Conclusão
O que vemos no caso da visão africana não é apenas um erro. É uma sequência de justificativas humanas tentando consertar uma falha profética. As alterações posteriores, as reinterpretações, as promessas não cumpridas — tudo isso mina a confiança na natureza “divina” da revelação.
Deuteronômio 18:22 deixa claro:
“Se o profeta falar em nome do Senhor, e tal palavra não se cumprir, com presunção falou o tal profeta.”
Branham não previu um possível evento. Ele garantiu, em nome de Deus, que algo aconteceria — e isso simplesmente não aconteceu.
Texto: G. Zezo
Fontes: