Laís Freire
Meu nome é Laís Freire. Sou de Recife, Pernambuco, e nasci na Mensagem de William Branham. Quando criança, congreguei no Tabernáculo em Recife, sob o pastoreio do Pr. César Augusto. Meu pai era o líder de cânticos.
Nunca foi fácil fazer parte da Mensagem. Quando pequena, lembro-me da primeira grande divisão da Mensagem no Brasil. Também me lembro do quanto isso afetou a mim e à minha família. Naquela época, não era simples entender o que estava acontecendo. Estamos falando do final dos anos 90. Não sabíamos, de fato, se o ancião do Tabernáculo da Fé em Goiânia havia cometido atos de imoralidade. Por conta da divergência de opiniões, o clima entre o pastor e meus pais foi se tornando cada vez mais insustentável. A liderança começou a colocar toda a igreja contra aqueles que não concordavam com ela e, assim, minha família e um pequeno grupo saíram do Tabernáculo.
Após isso, começamos a frequentar uma nova igreja, dessa vez um grupo menor. Porém, o que parecia ser um recomeço logo se tornaria um pesadelo. O ancião regional do Nordeste indicou um dos irmãos para ser o novo pastor, mas essa não era a escolha da igreja. A pessoa indicada “caiu nas graças” do companheirismo de Goiânia, pois era o único que, na época, tinha condições de viajar para os encontros nacionais, que naquele momento estavam concentrados na cidade de Goiânia, em Goiás. Para evitar conflitos de interesse, meu pai influenciou a igreja a aceitar a indicação do ancião regional, e assim o novo pastor foi estabelecido.
O pastor escolhido não estava apto para o ministério, conforme Paulo ensinou em sua carta a Timóteo. Todavia, isso nem sequer foi analisado pelas lideranças regionais. O importante não era consagrar um pastor conforme as Escrituras, mas alguém fiel ao companheirismo de Goiânia. Era tempo de “tomar lados”. Tudo era muito político.
Depois disso, os problemas começaram logo. Os conflitos entre o pastor e sua própria família rapidamente iniciaram uma onda de escândalos dentro da igreja e, um a um, à medida que as situações iam surgindo, os irmãos deixavam de frequentar os cultos. A igreja foi diminuindo gradativamente. Eu e minha família permanecemos ao lado do pastor até o fim. Fomos os últimos membros daquela igreja. Apesar disso, descobrimos que, para todo o regional do Nordeste, meu pai foi considerado o culpado pelo fim da igreja e pelo insucesso do ministério. O ancião do Nordeste nunca se responsabilizou por consagrar o homem errado, preferindo colocar a culpa em meu pai.
Sempre absorvi tudo isso de forma negativa. Desde que nasci, fui doutrinada a acreditar que a Mensagem de William Branham era a única forma pela qual poderíamos ser “noiva eleita”, e que Branham precisava ser recebido como profeta restaurador. Não apenas isso, mas que o companheirismo de Goiânia era o único verdadeiro quando se tratava da Mensagem no Brasil. Tive que ver minha família ficar “desigrejada” mais uma vez, mesmo com outras denominações protestantes ao redor de nossa residência. A solução foi viajar para cidades próximas a Recife para poder ter “companheirismo” e participar da Santa Ceia uma vez por mês. Nem de longe isso pode ser considerado normal, mas quando estamos numa bolha, não temos esse discernimento.
Quando pensava na Mensagem, via apenas fracasso. Já estava na adolescência e havia em mim uma enorme sede de Deus. Tinha amigos que frequentavam outras igrejas protestantes, e não os via com as mesmas dificuldades que eu enfrentava. Simplesmente não conseguia entender por que, na Mensagem, parecia tão difícil encontrar um lugar saudável para congregar.
Em 2011, finalmente me converti à Mensagem. Após ler o sermão “Deixando Escapar a Pressão”, convenci-me de que Branham e sua Mensagem eram coisas completamente distintas do companheirismo do qual eu fazia parte. Aos poucos, fui me tornando cada vez mais fanática por William Branham. Lia constantemente seus sermões, muito mais do que a própria Bíblia. Fui atraída por um estilo de pregação típico da segunda onda do pentecostalismo americano. Foi um tempo em que “queimei várias pontes”. Afastava-me de pessoas que não eram da Mensagem e me uniformizava aos padrões estabelecidos. Para todos, eu estava me tornando uma “moça espiritual”, mas hoje sei que apenas mergulhava cada vez mais fundo numa caverna, fechando-me dentro da bolha.
Apesar de geralmente haver apenas um culto por mês, comecei a me engajar. Fiz amigos — muitos dos quais continuam ao meu lado até hoje — e também namorei, noivei e casei. Meu casamento foi a maior vitória que tive dentro da Mensagem.
Durante toda minha vida, quando se tratava do sistema de crenças em que nasci, sempre tive uma sensação estranha de inadequação. Apesar disso, nunca imaginei que um dia sairia da Mensagem. Eu queria estar na verdade e ser salva. Quem não quer?
Em 2021, quando os escândalos de imoralidade por parte do ancião de Goiânia explodiram nas mídias, senti como se estivesse vivendo um déjà vu. Toda aquela atmosfera de “tomar lados” voltou. Para mim, ficou muito claro que pecados varridos para debaixo do tapete há mais de 20 anos estavam voltando à tona. Eu não precisava que me explicassem quem estava mentindo ou falando a verdade. Pela minha experiência, já sabia o que estava acontecendo. Não era algo difícil de discernir. A única diferença agora é que tínhamos as redes sociais, e as coisas não poderiam mais ser abafadas com a mesma facilidade dos anos 90.
Após isso, iniciei uma longa jornada de estudos sobre a Mensagem de Branham, porque queria provar que o companheirismo de Goiânia tratava-se de um “sistema nicolaíta”. Para isso, utilizei vários sermões, principalmente o Livro das Eras da Igreja. De tanto pesquisar sobre esses assuntos, termos como dispensacionalismo, arrebatamento pré e pós-tribulacional começaram a aparecer constantemente como sugestões em minhas redes sociais. Isso me chamou a atenção, pois eram nomenclaturas que eu não conhecia. Ao aprofundar os estudos, percebi que o dispensacionalismo era 100% da escatologia ensinada por Branham e que nada disso era uma “revelação divina”. Assim, fui entendendo — ainda que tardiamente — que era necessário rever todo o sistema de crenças no qual nasci. Eu não imaginava que encontraria uma série de mentiras, heresias e erros históricos. Quando me deparei com isso, a princípio, meu mundo desabou. Como não esperava, não estava pronta para encarar que o “profeta” que aprendi a considerar quase como um ser divino era, na verdade, um mentiroso compulsivo e pregador de heresias.
Passei um ano inteiro estudando cada doutrina principal da Mensagem. Foi uma jornada solitária. Eu sabia que não haveria apoio para o que estava fazendo. Em 2022, decidi sair oficialmente. A conclusão a que cheguei é que a Mensagem é uma seita pseudocristã, pois suas doutrinas não se originam dos apóstolos, da tradição da Igreja ou das Escrituras, mas sim de fontes e vertentes gnósticas.
A partir de 2024, entrei para a comunidade Desmistificando Branham, em um esforço para produzir conteúdos que ajudem outros a verem a verdade. Meu desejo é que essa comunidade de ex-membros cresça e que nosso trabalho seja como uma luz no fim da caverna — mesmo que apenas para alguns. Como diz Santo Agostinho: “A verdade tem poucos amigos”.
Deus abençoe a todos.