Origem e Refutação da Doutrina da Semente da Serpente de William Branham
A doutrina da Semente da Serpente ensinada por William Branham afirma que Eva teve uma relação sexual com a serpente no Jardim do Éden, resultando no nascimento de Caim e sua descendência perversa.
A Igreja Batista Duas Sementes já ensinva essa doutrina antes de Branham, ( Os batistas predestinaristas Two-Seed-in-the-Spirit) não tinha um único líder centralizado, mas um dos pregadores mais conhecidos dessa vertente foi Daniel Parker (1781-1844). Ele foi um pastor batista nos Estados Unidos e um dos primeiros a ensinar uma versão da doutrina das duas sementes no contexto batista.
Daniel Parker e a Doutrina das Duas Sementes:

Ele desenvolveu essa doutrina no início do século XIX, por volta de 1820, antes do surgimento de William Branham. Parker defendia que a humanidade era dividida em duas linhagens distintas desde o Éden: Os descendentes de Adão e Abel (eleitos de Deus) Os descendentes de Caim (filhos da serpente, predestinados à perdição) Ele misturava essa ideia com a teologia batista primitiva da predestinação, argumentando que apenas os descendentes espirituais da "boa semente" poderiam ser salvos. Isso lhe parece semelhante, não parece?
Daniel Parker fundou igrejas no Kentucky, Tennessee e Texas, onde sua influência foi maior. Com o tempo, a visão das "duas sementes" perdeu força dentro do meio batista tradicional, mas sobreviveu em grupos independentes e ressurgiu com William Branham no século XX. Embora Daniel Parker não tenha sido o único a ensinar essa doutrina, ele foi um dos primeiros pregadores conhecidos a sistematizá-la dentro do contexto batista.
Batismo e ordenação de William Marrion Branham
Roy Elvon Davis, cofundador da segunda fase e líder da KKK nos EUA, foi responsável pelo batismo e ordenação de William Branham, e era adepeto ao movimento Identidade Cristã, foi na igreja batista de Roy Davis que William Branham aprendeu sobre a semente da serpente, mas como sempre, ele readaptou e chamou de “revelação”.

Pontos-chave sobre essa relação:
Davis batizou Branham e foi seu pastor por cerca de dois anos. Ele pregou o sermão de ordenação de Branham e assinou seu certificado de ordenação. Branham o reconhecia como seu professor em frequentemente o chamava de "Doutor" e "Advogado", o que dava a Davis uma autoridade sobre sua formação. Davis foi o responsável por apresentar Branham à fé pentecostal. Isso explica por que Branham, mesmo se identificando como batista em seus primeiros anos, posteriormente assumiu uma teologia voltada para o pentecostalismo e o movimento de cura divina.
Roy Davis era um notório membro da Ku Klux Klan e chegou a ser o 8º Mago Imperial dos Cavaleiros da Ku Klux Klan, o líder da KKK no auge do conflito racial dos EUA. Sua presença na vida de Branham levanta questões sobre a influência de Davis nas crenças e atitudes de Branham em relação à segregação racial e outros temas polêmicos. Davis era conhecido por seu estilo retórico forte e por seu enfoque no "ponto de vista legal" da Bíblia. Branham adotou um método semelhante ao interpretar as Escrituras, frequentemente apresentando suas doutrinas como se fossem "casos resolvidos" por revelação divina.
A relação entre Branham e Davis foi mais profunda do que uma simples conexão pastoral. Davis moldou a identidade ministerial de Branham, influenciando sua teologia e metodologia. Essa relação também levanta questões sobre a origem das doutrinas de Branham e o quanto delas eram realmente "revelações divinas" ou simplesmente um reflexo das crenças do seu mentor. Veja o que Roy Davis falava de Branham: "Eu sou o ministro que recebeu o irmão Branham na primeira assembleia pentecostal que ele frequentou. Eu o batizei e fui seu pastor por cerca de dois anos. Eu também preguei seu sermão de ordenação, assinei seu certificado de ordenação e o ouvi pregar seu primeiro sermão." - Rev. Roy E. Davis - Retirado do artigo "Voice of Healing", publicado em 1950.
Isso mostra como Roy Davis tinha um grande apreço e admiração por Branham, agora vamos ver o que Branham diz sobre Roy Davis: “Quando me converti e fui ordenado na igreja batista, tive um bom e velho professor chamado Dr. Roy Davis. Ele era advogado antes de sua conversão e ele levava tudo de um ponto de vista legal na Bíblia.” - Sermão “Deus cumpre a sua palavra” – 1957 Essas declarações revelam a estreita relação entre William Branham e Roy Davis, evidenciando que Davis não apenas o introduziu ao pentecostalismo, mas também teve um papel fundamental na sua ordenação e primeiros passos ministeriais. Branham reconhecia Davis como um mentor e referia-se a ele com respeito, chegando a atribuir-lhe o título de "Doutor". No entanto, é importante lembrar que Roy Davis era uma figura altamente controversa, com um histórico de envolvimento em fraudes, crimes, e na Ku Klux Klan, o que levanta questionamentos sobre a real origem da influência teológica e ideológica de Branham. Não preciso sequer argumentar que um profeta de Deus jamais teria esse tipo de relação.
No geral, essa doutrina da semente da serpente ensinada por Branham também era difundida pela Teologia da Identidade Cristã, que surgiu nos Estados Unidos nos anos 1920. Essa teologia adotou a doutrina com um viés racial, argumentando que certos povos, como os negros, seriam descendentes de Caim e, portanto, espiritualmente inferiores. Esse uso da doutrina não reflete o ensino original de Branham, que a utilizava num contexto de explicação do pecado original e da redenção. No entanto, ao que tudo indica, foi naquele meio que ele aprendeu isso. Nenhum anjo lhe revelou e nenhum movimento associado ao KKK, supremacista branco e terrorista, teria qualquer tipo de revelação, ainda que “superficial”.
Além do mais, agora que aprendemos a origem totalmente problemática de onde Branham aprendeu essa doutrina e onde ele foi ordenado como pastor, vamos abordar sua refutação. Essa interpretação é totalmente antibíblica e não tem base na Tradição Cristã. A Bíblia não diz que Eva teve relações sexuais com a serpente. Gênesis 3:6: “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu; e deu também ao marido, e ele comeu com ela.” Refutação: O texto diz claramente que Eva comeu um fruto, não que teve relações sexuais com a serpente. A alegação de Branham é uma interpretação forçada e sem base no texto bíblico.
A Bíblia ensina que Adão foi o pai de Caim, não a serpente.
E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz a Caim.” Refutação: A palavra "conheceu" na Bíblia é um eufemismo para relação sexual. O próprio texto afirma que Adão conheceu Eva e ela concebeu Caim. Se a serpente fosse o pai, o texto diria isso explicitamente.
Gênesis 4:1
Caim não é chamado de “filho da serpente”, mas sim de um pecador perverso.
Não como Caim, que era do maligno e matou seu irmão.
1 João 3:12
Refutação: Ser "do maligno" não significa ser um filho literal do diabo, mas sim ser alguém que segue o pecado. Jesus chamou os fariseus de "filhos do diabo" (João 8:44), mas isso não significa que eles eram filhos biológicos de Satanás.
O pecado original foi a desobediência a Deus, não um ato sexual.
Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos.
Romanos 5:19
Refutação: Paulo ensina que o pecado entrou no mundo pela desobediência de Adão, e não por um suposto ato sexual entre Eva e a serpente.
A descendência da serpente não é física, mas espiritual.
E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.
Gênesis 3:15
Refutação: A "descendência da serpente" não significa filhos físicos de Satanás, mas sim os ímpios que rejeitam a Deus, é a descendência da desobediência. A "descendência da mulher" refere-se a Cristo e Seu povo.
São João explica o motivo por que Caim matou Abel. Vamos ler a carta do Apóstolo:
Não sejamos como Caim, que pertencia ao Maligno e matou o próprio irmão. E por que o matou? Porque as suas obras eram más, e as do seu irmão eram justas.
1 João 3:12
Ali diz “Por que o matou? Porque era filho da serpente?”, claro que não. Mas aí vão dizer “mas suas obras eram más porque ele era filho da serpente.” Aí vai de interpretação feita com malabarismos. A Igreja primitiva ensinava exatamente como São João ensinou. Branham veio “restaurar” algo que nunca foi ensinado pelos Santos Apóstolos e pela Igreja Primitiva? Os únicos registros desse ensino na Igreja Primitiva são em grupos gnósticos pagãos que foram condenados pela Igreja por misturar paganismo e negar a divindade de Cristo. Essa era a Igreja Primitiva de Branham? Era os gnósticos pagãos? Eram os que negavam a divindade de Cristo?
Sobre os pais da Igreja, vamos ver o que Santo Irineu de Lyon aborda sobre os gnósticos que falavam sobre essa doutrina: Uma passagem de Santo Irineu que refuta a doutrina da semente da serpente pode ser encontrada em Contra as Heresias, Livro 1, Capítulo 30, §7, onde ele aborda a heresia dos gnósticos, que ensinavam que Eva pecou cometeu adultério.
[Eles] astutamente elaboraram um esquema para seduzir Eva e Adão, por meio da serpente… esta (Eva) pecou cometendo adultério… Tais são as opiniões que prevalecem entre essas pessoas, por quem, como a hidra de Lernæan, uma besta de muitas cabeças foi gerada a partir da escola de Valentino.
Contra as Heresias, Livro 1, Capítulo 30, §7
Como essa citação refuta a semente da serpente?

Unidade da humanidade – Irineu refuta a ideia de que Caim tenha sido o produto de uma linhagem física maligna, afirmando que todos os seres humanos têm a mesma origem, sendo filhos de Adão e Eva. Origem do mal não é biológica – Ele rejeita a ideia de que o mal tenha uma origem genética ou racial, mas sim uma consequência do pecado e da escolha humana. A graça de Deus é acessível a todos – Em vez de uma divisão entre linhagens de "bons" e "maus", Irineu ensina que todos podem se arrepender e ser salvos pela graça divina. Dessa forma, ele refuta claramente a noção gnóstica de uma "semente da serpente", que pretendia separar a humanidade em dois grupos, e afirma a visão cristã tradicional de que todos os homens são descendentes de Adão e Eva, com a possibilidade de salvação para todos.
É importante destacar que Santo Irineu refutou a ideia de uma descendência física da serpente, c Essa noção não tem origem na tradição apostólica, mas sim em escritos gnósticos apócrifos do século II d.C como o chamado "Evangelho de Filipe", uma obra influenciada por Valentim (100 d.C - 160 d.C) e seus seguidores.
Irineu, em sua obra mais famosa Contra as Heresias, combateu diretamente os ensinamentos dos gnósticos, que alegavam que certas linhagens humanas descendiam fisicamente de uma entidade maligna. Ele reafirmou que a salvação e a perdição não eram determinadas por uma origem genética ou por uma "semente física", mas pela fé e adesão à verdade revelada por Cristo e transmitida pela Igreja.
A doutrina da Semente da Serpente de William Branham é uma heresia sem base bíblica. Nenhum Pai da Igreja jamais ensinou isso, não existe como restaurar algo que nunca foi ensinado. A Bíblia ensina que: Caim era filho de Adão, não da serpente (Gênesis 4:1). Ser “do maligno” significa seguir o pecado, não ser filho biológico de Satanás (1 João 3:12). A descendência da serpente é espiritual, não física (Gênesis 3:15). Essa doutrina de Branham foi criada para justificar um racismo disfarçado. Muitas vezes, Branham pregava contra o casamento inter-racial dizendo que não era para “misturar”, pois o filho nasceria “híbrido”. Ora, isso é eugenismo, ideia totalmente antibíblica e anticientífica. Miscigenação não causa nenhum tipo de hibridez.
Apesar de Branham não ser declaradamente racista e não pregar contra as pessoas negras diretamente, ele induzia o pensamento eugenista. Lembre-se que os ensinos dele sobre a doutrina da serpente foram no auge do conflito racial nos Estados Unidos na década de 1950.