Por que não há mais profetas?

Por que não há mais profetas?
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William Branham afirmava ser um profeta no mesmo nível dos profetas do Antigo Testamento, trazendo uma revelação para a Igreja nos últimos dias. No entanto, a Bíblia e a Tradição da Igreja demonstram que não há mais profetas no sentido veterotestamentário após a conclusão da revelação em Cristo e nos Apóstolos. Neste texto, veremos como as Escrituras, os ensinamentos de São Paulo e os escritos patrísticos, especialmente de Santo Irineu de Lyon (130 d.C – 202 d.C), refutam essa ideia.

O Papel dos Profetas no Antigo Testamento

No Antigo Testamento, os profetas tinham um papel essencial na revelação de Deus:

  • Transmitiam a Palavra de Deus diretamente ao povo (Jeremias 1:9, Isaías 6:9).
  • Anunciavam o futuro conforme Deus lhes revelava (Daniel 9, Isaías 53).
  • Chamavam Israel ao arrependimento e à aliança com Deus (Jeremias 25:4-5).

Porém, a função profética tinha como objetivo preparar o caminho para a vinda do Messias. O próprio Jesus afirmou:

"Todos os profetas e a lei profetizaram até João"

(Mateus 11:13).

Isso indica que a linha profética veterotestamentária se encerra com João Batista, o último profeta enviado para anunciar a vinda de Cristo.

O Cumprimento da Profecia em Cristo

A vinda de Cristo cumpriu todas as promessas dos profetas. Como diz Hebreus:

"Havendo Deus antigamente falado muitas vezes e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho"

(Hebreus 1:1-2).

Ou seja, Cristo é a revelação final de Deus. Após Ele, não há mais necessidade de novos profetas no mesmo sentido dos antigos, pois toda a verdade já foi revelada.

São Paulo reforça isso:

"O mistério que esteve oculto desde todos os séculos e todas as gerações, agora foi manifesto aos seus santos"

(Colossenses 1:26).

Portanto, não há mais "novos mistérios" a serem revelados por profetas modernos.

Os Profetas no Novo Testamento: Diferentes dos do Antigo

O Novo Testamento menciona profetas na Igreja primitiva, mas eles não tinham a mesma função dos profetas do Antigo Testamento. São Paulo descreve a profecia como um dom espiritual dado para edificação da Igreja:

"Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar. Porque o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios. Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação"

(1 Coríntios 14:1-3).
A Igreja Primitiva nos mostra um exemplo de profecia ao qual o Apóstolo Paulo se referia, como o do profeta Ágabo:
"E, demorando-nos ali por muitos dias, chegou da Judéia um profeta, por nome Ágabo; e, vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo, e ligando-se os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim ligarão os judeus em Jerusalém o homem de quem é esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios"

(Atos 21:10-11).

Veja também o quíntuplo de Efésios de São Paulo:

"E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores"

(Efésios 4:11).

Perceba que existe uma ordem, e ela não está por acaso. Os primeiros citados são os apóstolos, pois foram diretamente escolhidos por Cristo para serem os fundamentos da Igreja. Como diz Efésios 2:20, a Igreja é "edificada sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo Jesus Cristo a principal pedra da esquina". Note que os profetas citados aqui fazem referência ao Antigo Testamento.

A palavra "Apóstolo" vem do grego ἀπόστολος (apóstolos), que significa "enviado", "mensageiro", "embaixador". A estes foi dada a missão de ensinar a respeito de Cristo em sua plenitude. Eles tinham autoridade para revelar as Escrituras e sempre apontavam para Cristo. Em seguida, vêm os profetas, na função apontada por São Paulo (1 Coríntios 14:1-3), e depois os evangelistas, que espalhavam o Evangelho conforme o ensinamento dos apóstolos.

O Profeta do Novo Testamento Não Traz Doutrinas

O papel do profeta no Novo Testamento era secundário em relação aos apóstolos, que receberam a revelação definitiva de Cristo. A profecia era para edificação da Igreja, não para a "revelação" de novas verdades teológicas.

William Branham, por outro lado, se dizia um profeta no estilo do Antigo Testamento, trazendo revelações e doutrinas — algo que não existe na Nova Aliança. Ele frequentemente usava o argumento de que veio "restaurar a Igreja".

A forma como Branham se colocou foge completamente à luz das Escrituras e da Tradição da Igreja sobre os profetas. Ele se apresentava como o precursor da Segunda Vinda de Cristo e se comparava a profetas da Antiga Aliança — aliança essa que, segundo as palavras de Jesus, teve seu último profeta em João Batista. Jesus afirmou que João era o Elias que havia de vir (Mateus 11:14, Lucas 16:16). Branham frequentemente se colocava na posição do profeta Elias, fazendo referência à profecia de Malaquias no Antigo Testamento.

Os seguidores de Branham, conhecidos como bramitas, demonstram uma impressionante desonestidade interpretativa ao atribuir a ele passagens como Malaquias 4:5, alegando que Branham possuía o espírito de Elias e que sua missão era análoga à de João Batista. No entanto, quando confrontados com a realidade de que não existem mais profetas no modelo do Antigo Testamento, tentam desviar a discussão, recorrendo ao ministério quíntuplo de Efésios 4:11 e mencionando categorias de profetas do Novo Testamento.

Branham cita Malaquias 4:6 para se referir a si mesmo. No entanto, o anjo Gabriel fez referência dessa Escritura para Zacarias, indicando que João Batista era o cumprimento dela:

"E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus. E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto"

(Lucas 1:16-17).

Outro problema é que os profetas do Novo Testamento nunca se colocaram em uma posição tão elevada quanto Branham constantemente fazia. Nem as profecias registradas nas Escrituras, proferidas por esses profetas neotestamentários, se assemelham ao que Branham tentou estabelecer — como a introdução de revelações e doutrinas heréticas amplamente refutadas pela Igreja Primitiva.

Santo Irineu de Lyon e a Refutação das Heresias

De maneira irônica, grande parte das doutrinas de Branham foram refutadas séculos antes por Santo Irineu de Lyon, um dos primeiros Pais da Igreja, que combateu heresias semelhantes no século II. Santo Irineu escreveu:
"Os hereges sempre dizem ter algo a mais, algo secreto, além daquilo que os apóstolos ensinaram. Mas a Igreja recebeu tudo deles e não há outra verdade além da que já foi entregue" (Contra as Heresias, III,1,1).

Isso refuta diretamente a afirmação de Branham de que recebeu novas revelações.

Irineu também afirma que o mistério de Deus já foi completamente revelado em Cristo:

"O mistério de Deus é Cristo, anunciado pelos profetas e plenamente revelado em sua vinda"

(Contra as Heresias, IV,26,1).

Curiosamente, Branham elogiava Santo Irineu sem perceber que ele refutava suas doutrinas, como a da "semente da serpente", que já era combatida por Irineu contra os gnósticos no século II. Assim, as ideias de Branham são inconsistentes tanto com as Escrituras quanto com a Tradição da Igreja.

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Jamie Larson
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