Todas as mentiras de William Branham sobre o Concílio de Nicéia

Todas as mentiras de William Branham sobre o Concílio de Nicéia
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Hoje, 20 de maio de 2025, celebram-se exatos 1700 anos desde o Concílio de Niceia, ocorrido em 325 d.C. Este concílio, convocado a pedido do Bispo Ósio de Córdova pelo imperador Constantino e composto por pelo menos 318 bispos de várias regiões da Europa, Asia e África, tanto o ocidente como o oriente estavam presentes, teve como principal objetivo combater a heresia ariana e reafirmar a Divindade de Cristo, proclamando-o consubstancial ao Pai. Uma das acusações mais recorrentes por parte de movimentos modernos, especialmente dentro do branhamismo, é a de que o conceito da Trindade nasceu neste concílio como uma inserção pagã, promovida pela Igreja Católica em associação com o Império Romano.

William Marrion Branham, chegou a afirmar que o trinitarianismo é “do diabo” e que a doutrina teria origem pagã, com paralelos entre santos cristãos e deuses romanos. Contudo, tais alegações são sérias e sem respaldo patrístico e teológico. Este artigo se propõe a confrontar diretamente tais declarações, demonstrando que a fé trinitária já era plenamente professada muito antes de 325 d.C., inclusive por Santo Irineu de Lyon (130-202 d.C), a quem o próprio Branham recorre como uma figura de autoridade.

Antes de tudo, não, Nicéia não fica na França como Branham disse:

6 - A primeira igreja denominacional, vimos isso esta tarde na história dos pais de Niceia, da igreja de Niceia. Foi após a morte dos apóstolos que vieram os pais de Niceia, e continuaram por vários anos. Trezentos e vinte e cinco anos, finalmente chegaram a—a Niceia, França, onde tiveram o—o grande concílio de Niceia. E lá formaram estes dogmas que a igreja católica tem agora e que também foram passados aos protestantes.

58-0928E - A Semente da Serpente
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"Niceia era uma cidade, atualmente İznik, na Turquia. Branham não apenas desconhecia a história da Igreja, como também noções básicas de geografia.

Seria a Trindade invenção romana?

Branham escreveu em sua obra o seguinte:

“Tornou-se uma doutrina fundamental no Concílio de Nicéia em 325 dC. Esta trindade (uma palavra absolutamente não escriturística) foi baseada em muitos deuses de Roma. \[...] Assim, em lugar de Júpiter, Veneza, Marte, etc., temos Paulo, Pedro, Fátima, Cristóvão, etc., etc.”

Uma Exposição das Sete Eras da Igreja, Capítulo 1, página 8 - A Revelação de Jesus, O Cristo
Gravações A Voz de Deus

Em outro sermão gravado, ele é ainda mais incisivo:

174 - Trinitarianismo é do diabo! Eu digo que ASSIM DIZ O SENHOR! Veja de onde veio. Veio do Concílio de Nicéia quando a igreja católica se tornou governante.

61-0108 - Apocalipse, Capítulo 4, 3º parte
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Ocorre que essa acusação sofre de uma dupla contradição: histórica e doutrinária. A afirmação de que a doutrina da Trindade tenha surgido em 325 d.C. ignora os registros históricos abundantes da fé trinitária nos primeiros séculos do cristianismo. Mais do que isso, o uso do Santo Irineu de Lyon como "mensageiro de era" dentro da estrutura branhamista revela uma incoerência interna, uma vez que Irineu professava clara e publicamente a fé na Trindade mais de 140 anos antes do Concílio de Niceia.

O Credo Niceno em Santo Irineu (isso mesmo).

Santo Irineu de Lyon, bispo do século II e autor da monumental obra Contra as Heresias, escreve no Livro I, capítulo 10, uma confissão de fé que ecoa em todos os elementos a estrutura do futuro Credo Niceno:

"A Igreja , embora dispersa por todo o mundo, até os confins da terra, recebeu dos apóstolos e seus discípulos esta fé : [Ela crê] em um só Deus , Pai Todo-Poderoso, Criador do céu, da terra, do mar e de tudo o que neles há; e em um só Cristo Jesus , Filho de Deus , que se encarnou para nossa salvação ; e no Espírito Santo , que proclamou por meio dos profetas as dispensações de Deus , e as vinda, e o nascimento de uma virgem , e a paixão, e a ressurreição dos mortos , e a ascensão ao céu na carne do amado Cristo Jesus , nosso Senhor, e sua [futura] manifestação do céu na glória do Pai para reunir todas as coisas em uma, Efésios 1:10 e para ressuscitar toda a carne de toda a raça humana , a fim de que a Cristo Jesus , nosso Senhor, e Deus , e Salvador, e Rei, de acordo com a vontade do Pai invisível, todo joelho se dobre, das coisas no céu, e coisas na terra, e coisas debaixo da terra, e que toda língua confesse" - Contra as Heresias

Essa é uma clara profissão de fé trinitária: um só Deus, o Pai; um só Senhor, Jesus Cristo, que é reconhecido como Deus; e o Espírito Santo como sujeito pessoal que “proclamou pelos profetas”. Ou seja, muito antes do Concílio de Niceia, os cristãos já professavam a existência de um só Deus em três pessoas. Santo Irineu era discípulo de Policarpo, que por sua vez foi discípulo direto do apóstolo João, o que confere ainda mais autoridade ao seu testemunho.

O Credo Niceno: reafirmou a doutrina da Igreja

O Concílio de Niceia, longe de "inventar" a Trindade, sistematizou o que já era professado pela Igreja desde os tempos apostólicos. A palavra "Trindade" nem mesmo aparece nos cânones do Concilio de Nicéia.  Eis parte do credo aprovado em 325:

"Cremos em um só Deus , Pai Todo-Poderoso, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, unigênito de seu Pai, da substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado ( γεννηθέντα ), não criado, consubstancial ( ὁμοούσιον, consubstancialem) com o Pai. Por quem foram feitas todas as coisas, tanto as que estão no céu como na terra. O qual por nós, homens, e para nossa salvação, desceu [do céu], encarnou e se fez homem. Ele sofreu, ressuscitou ao terceiro dia e subiu ao céu. E virá outra vez para julgar os vivos e os mortos. E [nós cremos ] no Espírito Santo."

Isso confirma que o Concílio apenas reafirmou, diante de heresias, aquilo que os santos Padres, como Santo Irineu, já defendiam abertamente.

A contradição de Branham em citar Santo Irineu de Lyon:

É fundamental destacar a contradição de Branham ao identificar Santo Irineu como “mensageiro da segunda era da Igreja” e modelo de fé primitiva.

Contudo, o mesmo Santo Irineu cuja autoridade Branham invoca é quem afirma explicitamente a divindade do Filho e a realidade da Trindade. A rejeição da doutrina trinitária por Branham não só carece de respaldo histórico, como nega o testemunho daquele que ele mesmo diz ter sido levantado por Deus. Isso revela um problema estrutural na doutrina branhamista: uma seletividade incoerente que exalta certos aspectos da patrística enquanto rejeita seu conteúdo doutrinário essencial.

Não faz o menor sentido na própria pseudo-teologia branhamita, pois Branham afirma que cada era tem seu mensageiro e para ser "Noiva" precisa seguir esse mensageiro, ao seguir Santo Irineu em crer exatamente da mesma forma que o credo niceno professaria 140 anos depois não é uma contradição do deus branhamita? uma vez que Branham diz ter recebido no "assim diz o Senhor" que o concilio de Niceia é do diabo?

A afirmação de que a Trindade teria origem pagã e surgido no Concílio de Niceia é historicamente insustentável. Como demonstrado, mais de um século antes, Irineu de Lyon já professava de forma inequívoca a fé trinitária da Igreja. A autoridade patrística e o desenvolvimento do dogma cristão são testemunhas fiéis de que a Igreja, desde os seus primórdios, sempre creu num só Deus em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Branham, ao rejeitar esse fundamento, não apenas contradiz a história da Igreja, mas entra em colisão direta com as próprias fontes que ele tenta reivindicar. Celebrar hoje os 1700 anos do Concílio de Niceia é celebrar, na verdade, a fidelidade da Igreja à fé recebida dos apóstolos e transmitida fielmente pelos santos Padres Apostólicos tais como Santo Irineu. A Trindade não é invenção humana, e sim a natureza de Deus confirmada pela Escritura e pela Tradição da Igreja.

Questão bônus: "A primeira igreja denominacional, vimos isso esta tarde na história dos pais de Niceia, da igreja de Niceia." - Branham

Branham jurava que a Igreja não era organizada em "denominação" como afirmava que o Concilio de Niceia o faz, vamos ver isso é verdade segundo, novamente, o próprio Santo Irineu:

"Como, porém, seria muito tedioso, em um volume como este, contabilizar as sucessões de todas as Igrejas , confundimos todos aqueles que, de qualquer maneira, seja por um maldoso prazer próprio, por vaidade, ou por cegueira e opinião perversa, se reúnem em reuniões não autorizadas; [fazemos isso, eu digo,] indicando aquela tradição derivada dos apóstolos , da grandíssima, antiquíssima e universalmente conhecida Igreja fundada e organizada em Roma pelos dois gloriosos apóstolos , Pedro e Paulo ; como também [apontando] a fé pregada aos homens , que chega até nossos dias por meio das sucessões dos bispos . Pois é uma questão de necessidade que toda Igreja concorde com esta Igreja , por conta de sua autoridade preeminente" - Contra as Heresias (Livro III, Capítulo 3)

Irineu afirma que a Igreja de Roma, fundada por Pedro e Paulo, é a referência doutrinal para todas as demais Igrejas, destacando sua autoridade preeminente e a necessidade de todas as outras concordarem com ela. Isso desmonta completamente a narrativa branhamista de que a "igreja denominacional" teria surgido somente em 325 d.C. com a influência romana ou pagã.

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Jamie Larson
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