William Branham e o dízimo de cães

William Branham e o dízimo de cães

Em 19 de Março de 1961, William Branham, durante o sermão intitulado “Religião de Jezabel”, afirmou que cães "são a pior coisa de que Deus fala" e são como prostitutas, de forma que nem mesmo seus dízimos podem ser pagos na casa de Deus.

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RELIGIÃO DE JEZABEL
19 de março de 1961 - Middletown
Ohio - E.U.A.

“56 - (...) Então eu entrei lá e tudo estava bom até que “Miss América” entrou com um pequeno, sujo, cachorro “poodle” ordinário; usando suficiente bijuterias de camelô assim, e um cigarro ao final assim, assentou-se, assentou-se lá assumindo uma coisa que ela não era; e colocou aquele “poodle” sobre a mesa, coisa baixa e suja.

57 - Isto é... um cão é a coisa pior de que Deus fala. Mesmo o dízimo deles não pode nem mesmo ser pago na casa de Deus. “É como a prostituta, um dízimo de prostituta,” a Bíblia disse. E, ainda, ai está. Elas praticarão controle de natalidade e pagarão hum mil dólares, aproximadamente, por um velho cãozinho; e o conduzirão por ai e lhe darão um amor de filho, assim ela pode correr fora a noite toda, e praticará controle de natalidade.”

Se você faz, ou fez parte de alguma igreja simpatizante das ideias de Branham, esse conceito certamente não lhe é estranho, mas definitivamente controverso. A passagem bíblica a qual Branham se refere é Deuteronômio 23:17-18, à primeira vista, a frase " preço de cão" ou " dízimo de cão", se lida de forma isolada, pode parecer coerente, no entanto, um estudo mais aprofundado mostra que "cão" aqui é uma metáfora e não uma referência literal:

Deuteronômio 23:17-18 ARC[17] Não haverá rameira dentre as filhas de Israel; nem haverá sodomita dentre os filhos de Israel. [18] Não trarás salário de rameira nem preço de cão à casa do Senhor, teu Deus, por qualquer voto; porque ambos estes são igualmente abominação ao Senhor, teu Deus.

No hebraico original, o termo traduzido como “cão” é "בֶל ֶֶּ֫כ) "kelev). Embora literalmente signifique “cão”, o uso dessa palavra em contexto figurado era comum na Antiguidade para se referir de forma pejorativa a homens prostitutos ou em relações homossexuais, ou pessoas com comportamentos imorais ou perversos.Em Apocalipse 22:14-15 vemos novamente a palavra "בֶלֶכ) " (kelev) ser utilizada desta forma;

14] Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras [no sangue do Cordeiro], para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas. [15] Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira.

A palavra "cães" aqui não se refere a animais literalmente, mas é uma expressão simbólica e cultural. Em Isaías 56:10-11, “cães” são usados para descrever líderes gananciosos e infiéis; em Filipenses 3:2, Paulo chama os falsos mestres de “cães”, com sentido de impureza moral, já em Salmos 22:16,"cães" simbolizam inimigos cruéis e violentos.

É importante destacar que diversas traduções brasileiras da Bíblia já reconhecem o sentido figurado e cultural do termo hebraico kelev, optando por uma tradução mais clara e contextualizada. Por exemplo, a Nova Almeida Atualizada (NAA) e a Nova Versão Internacional (NVI) traduzem o versículo como “salário de um prostituto”, já a Almeida Revista e Atualizada traduz como “preço de sodomita” evidenciando que o texto não se refere a um cão literal, mas sim a práticas sexuais imorais. A Bíblia Viva também apresenta uma leitura semelhante, dizendo “pagamento recebido por um prostituto”. Essas traduções adotam uma abordagem mais fiel ao significado original do texto hebraico, evitando confusões e interpretações literais equivocadas, como a feita por Branham, que desconsidera o contexto histórico e simbólico do uso da palavra.

Conclusão:

Fica evidente a importância vital da exegese bíblica correta, ou seja, da interpretação das Escrituras com base no contexto histórico, cultural, linguístico e teológico. Ignorar esses elementos pode levar a distorções graves, e transformar metáforas bíblicas em doutrinas literais sem fundamento, reproduzindo preconceitos e práticas religiosas equivocadas. A Bíblia é rica em simbolismos e escrita em línguas antigas, cujas expressões nem sempre têm equivalente direto em nosso tempo ou cultura. Por isso, é dever de todo intérprete sério da Palavra buscar compreender o que o texto realmente quis dizer aos seus primeiros ouvintes, antes de aplicá-lo aos dias atuais. Somente com uma leitura responsável e contextualizada é possível evitar erros de interpretação que ferem o caráter do evangelho e distorcem o propósito das Escrituras: revelar o amor, a justiça e a verdade de Deus.

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Jamie Larson
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