William Branham e o Papa Americano
Em oito de maio de 2025, o conclave escolheu o novo líder da Igreja Católica: Robert Prevost, de 69 anos, cujo nome agora é Leão XIV. É um americano, nascido em Chicago, anteriormente cardeal da linha agostiniana. Pelo fato do novo papa ser americano, no dia do Habemus Papam, viralizou um parágrafo da mensagem Atos do Espírito Santo, pregada em 1954, onde Branham diz o seguinte:
87 - Creio que, num destes dias gloriosos, quando esta confederação unida de igrejas se unir, e o novo papa for tirado dos Estados Unidos e colocado lá, segundo a profecia, então formarão uma imagem semelhante à da besta. E eu vos digo, a verdadeira Igreja de Deus será unida. Os verdadeiros e verdadeiros crentes, metodistas, batistas, presbiterianos, pentecostais, nazarenos, peregrinos da santidade, sejam eles quais forem, caminharão juntos e cimentados pelo amor de Deus, o que formará o Corpo do Senhor Jesus Cristo, todos os crentes. E os agnósticos e os de mente superficial serão postos de lado; eles seguirão direto para a confederação de igrejas.
54-1219E - Atos do Espírito Santo
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UMA PROFECIA FOI CUMPRIDA… FINALMENTE?
A maioria dos seguidores da mensagem, provavelmente, compartilhou o parágrafo sem analisar o contexto da pregação. Se voltarmos a alguns parágrafos antes, vemos Branham ensinando que a igreja, muito embora dividida em várias denominações, é como se fosse uma pedra cortada em vários pedaços para a construção do templo de Deus. Ele faz uma comparação com as pedras cortadas para o templo de Salomão. Nesse contexto, Branham fala sobre o concílio mundial de igrejas, que acreditava que um papa americano seria o responsável por unir esse concílio, levando à exaltação da imagem da besta. É interessante também que Branham afirma que quando isso acontecer, todos os verdadeiros crentes das demais denominações se unirão e serão “cimentados” pelo amor de Deus, formando finalmente o corpo de Cristo.
Diante disso, alguns pontos precisam ser considerados.
- A profecia a que Branham se refere é a profecia bíblica de apocalipse 13, e não uma profecia particular:
Sabemos que o chamado “profeta” seguia uma linha escatológica não aceita totalmente pela teologia cristã, no mínimo bem peculiar. Branham defendia que o que está escrito em Apocalipse 13, a besta que sai do mar, representaria o poder religioso da Igreja Católica, na figura do Papa. A segunda besta, que sai da terra, Branham acreditava ser os Estados Unidos da América, que promoveriam uma união entre poder político e religioso, juntando-se à primeira besta, causando perseguição religiosa nos últimos dias.
Essa visão escatológica de Branham também era muito defendida pelos adventistas, por exemplo. Abaixo algumas citações:
“Os Estados Unidos são o poder representado pela besta com chifres semelhantes aos de cordeiro. Essa profecia se cumprirá quando os Estados Unidos impuserem a observância do domingo, que Roma afirma ser um reconhecimento de sua supremacia."
— Ellen G. White, O Grande Conflito, cap. 36
"O catolicismo romano, que se fortaleceu por meio da imigração, fixou seus olhos vorazes nos Estados Unidos, determinado a submeter este governo a seu poder. Os votos dominam aqui, e o catolicismo controla um eleitorado imenso, cautelosamente manipulado para os próprios objetivos. Com uma arma tão poderosa em mãos, seu poder para o mal é quase ilimitado."
— Uriah Smith — Daniel e o Apocalipse, p. 433
Outro grupo que também entende a besta que sai da terra, sendo os EUA, são as Testemunhas de Jeová.
Essas teorias, que também foram muito difundidas pelo grupo de supremacia branca Ku Klux Klan, são consideradas pela maioria cristã como conspiratórias.
É notável, então, que o entendimento de que haveria um papa americano e que este levaria à exaltação da besta se dá, pela crença de que esta besta da terra seria a própria nação americana. Havia uma tendência em seitas originadas nos EUA a colocarem a América como parte central da escatologia cristã. Isso é típico de indivíduos que acreditam que o mundo gira em torno de sua própria cultura. O fato é que Branham estava apenas ensinando suas crenças escatológicas, baseando-as em interpretações peculiares dos eventos e profecias narradas no livro de apocalipse. Não há nada no parágrafo e no contexto que indique uma profecia particular do reverendo.
- Branham não está descrevendo uma visão ou declarando “assim diz o Senhor”:
Em nenhum momento, no contexto ou no parágrafo em si, vemos Branham sugerir estar profetizando em nome do Senhor, como ele geralmente fazia em seus sermões. Ele estava apenas pregando seu entendimento escatológico conspiratório.
É estranho ver o comportamento dos crentes da mensagem quanto a isso, tendo em vista que eles foram ensinados a considerar profecia apenas aquilo em que foi declarado o “assim diz o Senhor”. Inclusive, outras supostas profecias, que não foram cumpridas, foram justificadas como apenas um palpite ou predição, exatamente por não conter nenhum termo indicativo como: “eis que te digo” ou “assim diz o Senhor”, ou “recebi a visão”, etc.
Um exemplo que podemos trazer aqui seria a predição, por inspiração divina, de que o milênio seria estabelecido em 1977. Como Branham não afirmou os termos ditos acima, após 1977 até hoje, seus seguidores insistem que não foi uma profecia, mesmo com a influência da inspiração divina.
Outro exemplo que podemos sinalizar é a profecia da cidade de Los Angeles, na Califórnia, completamente inundada por uma enchente. Billy Paul, filho de Branham, afirmou por várias vezes que seu pai lhe dissera que ele não seria um homem velho até que tubarões estivessem nadando por toda Los Angeles. Como Billy Paul estava envelhecendo e faleceu em 2023, a profecia, obviamente, não se cumpriu. Para justificar isso, muitos alegaram que não havia o “assim diz o Senhor”, indicando que a versão contada por Billy Paul durante todos esses anos não seria de fato uma profecia.
- Os seguidores de Branham estão inventando profecias?
Se esse é o critério ensinado para identificar as profecias e visões de Branham, por que agora os seus seguidores estão sinalizando profecias sem a indicação correta? Estaria a mensagem de William Branham se tornando uma bagunça? Eles estão tão desesperados por profecias reais que estão mistificando simples opiniões escatológicas do reverendo? Quais são os benefícios espirituais em inventar profecias e acrescentá-las à lista do “profeta”? Branham já não tem profecias falsas o suficiente?
- Se foi profecia, então tem que continuar sendo profecia até seu cumprimento:
O novo Papa agora teria que cumprir exatamente o que Branham falou no parágrafo 87, ou seja:
- O Papa americano teria que unir todas as igrejas protestantes em uma confederação mundial e ser o cabeça, o líder dessas igrejas;
- Após isso, ele terá que introduzir a adoração à imagem da besta;
- No final, todos os crentes verdadeiros de todas as denominações teriam que se unir e formar o corpo de Cristo;
- Os agnósticos e os de mente superficial, terão, também, que se unir à confederação de igrejas;
- Para concluir, teria que se iniciar uma grande perseguição provocada pelo Papa e pela confederação mundial de igrejas;
- Assim, o fim seria estabelecido.
Se por acaso o novo Papa renunciar seu ofício, falecer ou qualquer outro motivo que interrompa seu papado, sem cumprir exatamente o que foi dito acima, os crentes da mensagem desistirão de seu “profeta” e sua mensagem? Há uma grande chance de isso não ocorrer, se partirmos dos desapontamentos que aconteceram com supostas profecias anteriores. Os Branhamitas seguirão em frente como se nada tivesse acontecido. No futuro, quando alguém mencionar o Papa americano, eles alegarão que jamais foi uma profecia pela falta do “assim diz o Senhor”.
Quem é ou foi adepto da mensagem de William Branham desde a década de 80, por exemplo, sabe que este é exatamente o modus operandi do sistema Branhamita para lidar com profecias e visões não cumpridas.
Em outras seitas também identificamos a mesma problemática de mistificar eventos ou profetizar palpites que, ao final, não aconteceram conforme foi dito. Temos, por exemplo, os adventistas, que profetizaram a vinda de Cristo em 1844, e depois inventaram que, na verdade, em 1844 não seria a vinda, mas sim, Cristo entrando no lugar santíssimo e começando a Igreja do Advento.
As testemunhas de Jeová acreditaram que o milênio teve início em 1914, com o recebimento das revelações de Charles Russell. Após sua morte em 1916, eles inventaram que, na verdade, um milênio espiritual se iniciou após o falecimento de seu “profeta”.
A Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, conhecida como FLDS, sob a liderança do chamado “profeta” Warren Jeffs, acreditava que durante as Olimpíadas de 2004, em Atenas, na Grécia, iria acontecer o fim do mundo. Jeffs afirmava que recebeu a profecia diretamente de Deus, porém, como sabemos, nunca aconteceu.
CONCLUSÃO:
Muitos são os perigos de especulações se tornarem profecias. Além de criar grandes desapontamentos, trazem escândalo aos não cristãos, o que atrapalha na evangelização e no cumprimento do ide do Senhor. Outrossim, esse comportamento pode gerar decepções, desvios da fé e apostasia de pessoas que, apesar de serem sinceras, descobrem que foram enganadas.
Um palpite, uma crença ou simples opinião sobre eventos futuros não podem ser considerados profecia sem a devida indicação, inclusive escriturística, de que aquilo veio de Deus. Branham jamais profetizou, teve uma visão, ou declarou o “assim diz o senhor” para se referir a um papa americano, e sua visão escatológica de Apocalipse 13 é conspiratória e não aceita pelo cristianismo de dois mil anos.
“Quando parti para a Macedônia, pedi que você permanecesse em Éfeso para ordenar a certas pessoas que deixem de ensinar falsas doutrinas e de dar atenção a mitos e genealogias intermináveis, que causam especulações inúteis em vez de promover o plano redentor de Deus, que é pela fé. O objetivo dessa ordem é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera. Alguns se desviaram dessas coisas e se voltaram para discussões inúteis, querendo ser mestres da lei de Deus, quando não compreendem nem o que dizem nem as coisas acerca das quais fazem afirmações tão categóricas”.
1 Timóteo 1:3-7 (NVI)
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